Que sonhos de ventura, que tristeza,
Que denso nevoeiro vagabundo
Que a fome de ternura torna imundo
E a dor que me consome assim despreza.
A turba soa além, no fim do mundo,
Gemendo melodias com frieza,
A gente já não sente e é com certeza
Alheia à pobre dor dum moribundo.
Cantai, águas do rio, águas do Tejo,
Cantai num só clamor que se praguejo
Não é por vos querer mal, é por não querer
A dor que vive em mim da qual não vejo
Chegar o fim, cantai que o realejo
Que ouvis sem harmonia é meu sofrer!
José Sepulveda