quinta-feira, 25 de julho de 2013

Este poema lindo


Receita para fazer um poema


Receita para fazer um Poema

Pegamos num braçado de rosas com espinhos
Juntamos- lhe pitadas  de amor e de carinhos.
E lavamo-lo com restos de tristeza,
Adicionamos sabores 
De irreverência e de beleza.
E batemos forte, com destreza,
Até sentir cansaço!
Deixamos apurar com ventos e marés
Polvilhando a seguir  com um abraço.
Adorna-se com penas e com flores
E sabores a maresia,
Juntam-se pedacinhos de ilusão e de magia
Com pitadas  do mais lindo alvorecer…
Apura-se com raízes de paixão
E pigmentos de euforia e deixa-se ferver
Em perfeita sintonia.
Enfeita-se com pitadas  de absinto e de jasmim.
E recheia-se com sonhos e quimera
E fica assim, durante um pouco,
Em banhos de frenesim, à sua espera.

Serve-se louco.

terça-feira, 23 de julho de 2013

De manhã


Despertei de manhãzinha
Ao canto de um passarinho
E foi p’ra ti, queridinha
O meu amor e carinho

Ao ver os prados, os montes,
Essas belezas sem fim,
Meus olhos são duas fontes
Porque estás longe de mim

Fecho os olhos. De repente,
Tento no céu encontrar
Esse sorriso silente
Que cintila em teu olhar

Vem para mim, vem depressa
E rejeita o despudor
De tudo o que se atravessa,
Afrontando o nosso amor.

Se eu soubesse

Ai se eu soubesse, Amiga! Sei agora
Dessa tristeza e imensa solidão,
Que te atormenta a alma, que em ti mora
Trazendo sofrimento, escuridão.

Se é triste o sentimento que hora a hora
Te vai atormentando o coração,
Liberta-te depressa, lança-o fora
Desse teu peito cheio de paixão.

Escuta, amor, não deixes que o lamento
Insista em perseguir-te o pensamento
E foge dessa tua escravidão.

E então, irás sentir desde esse dia
O renovar da força, da energia
E a poesia vindo em profusão.

José Sepúlveda

O teu sorriso

O teu sorriso lindo que aqui vejo
Olhando para mim com meigo olhar
Me traz muita alegria e um desejo
De ver-te numa flor desabrochar

Olhando para ti, sinto o ensejo
De, como numa noite de luar,
Te ver brilhar ao som de um doce harpejo
Em brisa suave, silente sussurrar

E me deleito e inalo o teu perfume
Com sentimento puro, sem queixume,
Das coisas que te causam maior dor

E olhando nos teus olhos te sorrio
Lançando no teu peito o desafio
De te agarrares à vida sem temor…


José Sepúlveda

Fado

Perdi-me em teu olhar, quanta alegria
Eu sinto quando olho para ti
Procuro esse sorriso e simpatia
Que emana dos teus olhos, me sorri

E todo o sofrimento, nostalgia,
Do tempo em que no tempo me perdi,
Olhando nos teus olhos se esvazia
Nesse sorriso lindo que em ti vi

Não percas teu sorriso, essa alegria,
Quem sabe, se amanhã, se um outro dia
Nos vamos encontrar e doravante

Te vais cruzar comigo em qualquer lado
Fazendo do teu fado o mesmo fado
Que canto para ti em cada instante

Os teus poemas

Ao ler os teus poemas, num instante
Eu sinto o coração a saltitar…
Descubro neles uma vida errante
Partindo à descoberta de outro mar

E nesse trilho agreste, cativante,
Tão cheio de volúpia, de prazer,
Não ouso descobrir a eterna amante
Mas antes o fascínio de escrever

E quando a tua mente me desperta
Com pena sensual, mais liberta,
O coração exulta de alegria

Por isso, aqui, à laia de homenagem,
Te peço: mantém sempre essa coragem

E deixa-te esvair em poesia!

São Rosas

Olhava para mim apaixonada
E passeava à volta, em meu jardim,
Tentava desvendar o o que encontrava
Nas coisas que guardava para mim

E enquanto em meus segredos mergulhava
Tentando descobrir coisas assim,
Num tom apreensivo, perguntava:
- Que levas no regaço, querubim?

E nesse turbilhão de pensamentos,
Tentando controlar os sentimentos
Que possam dar tormentos, trazer dor,

Tentando aliviar a sofridão,
Abri de par em par o coração,
Mostrando-lhe: - São rosas, meu amor!

Ana Cláudia



Perdi-me quando a ouvi falar um dia…
Minha alma se sentiu apaixonada
Sentindo tudo aquilo que dizia
Cantando versos, alta madrugada

O tom de sua voz, serena, calma,
Nos transmitia temas de encantar
Saídos das entranhas de sua alma
E eu extasiado a ouvir cantar

Não deixes nunca que esse teu talento
Se veja ultrapassado pelo tempo,
Mas grita com vigor, com alegria

Que é belo, nobre e forte o sentimento
Que vive na raiz do pensamento
E salta do teu peito em poesia

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Memórias de Joana


Memórias de Joana

Joana, aqui das Minas do Lousal
Eu ouço e canto o grito do teu peito
A tua luta entre o bem e o mal
Num tom harmonioso, tão perfeito

E paro e reflito... É que, afinal,
Levado neste enleio, me deleito
Em teu singelo e doce versejar
Com gestos maternais e de respeito

Por isso, joaninha, aqui eu canto
Em melodias simples esse encanto
Em descobrir teu coração amigo

E ao penetrar ousado em teu viver
Eu acabei enfim por perceber
Que a vida faz agora outro sentido

José Sepúlveda

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mar


Ó MAR

Ó mar!
Porque será
que tuas águas 
tão mansas,
mergulhadas
numa quietude impar...,

Porque será
que tuas águas
tão límpidas,
com beleza
de pasmar...,

Porque será
que tuas águas
tão puras
e que tanto
nos alegram...

Se transformam
de repente
em águas tristes,
sujas,
soltas,
impuras,
sempre revoltas?...

Na tua resposta
Irás dizer
que este espécime de animal
que em ti busca prazer
nasceu para ser bom,
diferente...,
eternamente,
no seu caminho
contra a verdade...

Pequenez?
Destino?
Falta de carinho?

Nao!,
Falta de vontade!

José Sepúlveda


Jardim

Jardim

Em certo jardim do Porto
Onde há poemas pelo chão
Algo existe triste e torto
A afrontar meu coração

Poeta, diz-me, poeta,
Porque ocultas teu olhar?

Canta Nobre, canta Nobre
Para essa gente perdida
Pois mesmo a gente mais pobre
Merece um dia ter vida

Poeta, diz-me, poeta,
Em que estás tu a pensar?

Ó Jesus que estás tão perto
Desta tão ingénua gente,
Põe seu coração desperto
P’ra que não seja descrente

Poeta, diz-me, poeta,
Porque não estás a cantar?

Em certo jardim do Porto
Onde brincam mil crianças
Algo existe triste e torto
A abalar nossas esperanças

Poeta, diz-me, poeta,
Porque fixas meu olhar?

Rapazes cantam tristezas
Ali junto ao hospital
E perdem-se nas fraquezas
Mais próprias dum animal

Poeta, diz-me, poeta,
Porque segues meu andar?

Há lá poetas perdidos
Que na vasta solidão
Versejam despercebidos
Com tremores no coração

Poeta, diz-me, poeta,
O que te faz admirar?

Em certo jardim do Porto
Rodeado de verdura,
Um salgueiro quase morto
Lamenta a sua tortura

Poeta, diz-me, poeta,
Porque estás tu a chorar?

Os cisnes não se levantam
Os homens tristes estão,
Os passarinhos não cantam
E tudo é desilusão

Poeta, diz-me poeta,
Achas grande o teu penar?

Veio uma banda animar
Toda esta tristeza alegre
E, ouvindo a banda tocar,
Um homem, chorando, escreve

Poeta, amigo poeta,
Vem comigo, anda cantar!

José Sepúlveda

Abraço

Abraço

Deixa-me ficar
contigo,
amor,
Enlaçar-me
no teu corpo
e adormecer
sereno,
sorrindo,
sem tempo
nem espaço,
sentindo o teu calor,
o teu abraço
eterno,
infindo…
Deixa
que me esvaia
no teu corpo
lindo!

José Sepúlveda

Joana

Joana 

Joana, como é lindo o teu olhar
Olhando o meu, assim, tão penetrante!
Olho p’ra ti e logo, num instante,
Eu fico enternecido, sem falar!

O teu sorriso doce, de encantar,
Traz aos meus olhos brilho radiante.
E ouço a tua voz a cada instante
A me dizer: Avô, vamos brincar?

Vem-me abraçar-me, amor, e vem trazer
A força e alegria de viver
A este meu cansado coração

E vem dizer-me com o teu carinho:
Eu quero-te abraçar, meu avozinho,
Só quero o teu amor, tua afeição!

José Sepúlveda

Lindo Mar

Lindo Mar

Que lindo o Mar… Lá longe, o rodopio
Das aves, desbravando o azul sem fim,
Gaivotas a cantar ao desafio
Trinados encantados para mim

E olhando todo aquele desvario
Que põe todo o meu corpo em frenesim,
Eu sinto pela espinha um calafrio
E sonho essa magia de Aladin

E quando nesse voo singular
Mergulham triunfantes sobre o Mar
Na busca desse pão de cada dia,

Já vejo o nosso amor desabrochar
E vivo não mais eu mas esse Mar
Nascido no meu peito, que alegria!

José Sepúlveda

Teus Olhos

Teus Olhos

Que belos são teus olhos cintilando
No espectro de minha alma apaixonada...
Olhando o teu olhar, de vez em quando
Eu sinto essa paixão acorrentada.

Às vezes te desejo... e com desmando,
Procuro-te na longa madrugada
E, enquanto te procuro, vou pensando:
- Será nossa paixão desencontrada?

Ao resguardar bem dentro de meu peito
O teu olhar sereno, são, perfeito,
Eu caio num clamor, um brado aos céus...

E logo chega a paz, tanta alegria
E olho-te com terna simpatia
Sentindo que teus olhos já são meus!

José Sepúlveda

Abraço

ABRAÇO

Deixa-me ficar contigo, amor,
enlaçar-me no teu peito
e adormecer , sorrindo,
sem tempo nem espaço...
e me deleito
sentindo o teu calor,
o teu abraço,
eterno,
infindo...
Deixa dissolver-me
em teu regaço
e esvair-me no teu corpo lindo,
sorrindo,
sem cansaço!!!

José sepúlveda

Louca Paixão

LOUCA PAIXÃO

Há junto a mim uma menina linda
que sempre me enternece o coração
e, quase em fim de tempo, eu posso ainda
viver bem junto a si longa paixão

Por mais que ela me escuse em cada instante
e tente por em causa a relação
eu serei sempre o seu eterno amante
senhor do seu amor, dessa afeição

E se algum dia, no raiar da aurora
a minha musa pensar ir embora
deixando-me a cantar meu triste fado

Eu partirei, loucura , em seu encalço
pois não ouso pensar que seja falso
o seu amor tão belo e dedicado.

José Sepúlveda

Troika

RECORDANDO OS CRAVOS NA ERA DOS CRAVAS

Troika ruim e cruel que , nos surgiste
Tão cedo nesta terra descontente,
Avia-te daqui rapidamente
Que nenhum português ficará triste

Se lá, desse teu lar donde surgiste
Memória desta terra se consente
Nunca te esqueça nunca a nossa gente
A quem tão fracos tratos inflingiste

E se vês que te é dado a compensar
Toda esta dor imensa que deixaste
Nos meses em que andaste a torturar

Pede a deus, em quem nunca acreditaste,
Que bem cedo te faça acompanhar
Do ninho de coelhos que criaste

El Greco (José Sepúlveda)

Póvoa de Varzim

Póvoa de Varzim

A Noroeste da Península se situa
A mais formosa praia lusitana,
A imensa terra nostra que nos chama,
A Póvoa, terra minha, terra tua

És berço de poetas, de escritores,
De heróis que em terra e mar por ti lutaram
E com coragem nobre acarinharam
Em vida tantos, tantos pescadores

Vem ver o Eça, o Maio, o Calafate,
O Sérgio, o Lagoa e quantos mais
Que morrem exaltando-a até ao fim

Vem ver as lindas colchas de escarlate
Durante as procissões, pelos beirais
Cantando à linda Póvoa de Varzim

José Sepúlveda

Navegando

Navegando

Navego nesse mar imenso, infindo,
Ouvindo a doce brisa, o marulhar…
E nessa melopeia vou seguindo
P’ra onde a maresia me levar

No céu, as densas nuvens se esvaindo
Em lágrimas que tombam sobre o mar…
E as forças lentamente vão fugindo,
E sinto-me perdido, a navegar…

Algumas aves voam lá no céu
Sob esse oculto sol, agora breu,
Amedrontadas por me ver penar

E nesta nostalgia peço a Deus
Que venha perdoar pecados meus
Que a vida insiste em não me perdoar…

José Sepúlveda

Poemas

Poetas
Quantos poemas fiz, quantas belezas
Mandei a meu amor quando era meu,
Quantas loucuras vãs, quantas vilezas
Ridículas contei, quantas, ó céu!

Chamaram-me poeta, quais nobrezas!
Que és tu, irmão poeta, mais que eu?
Poemas são palavras, são certezas
Que a mais singela frase enterneceu.

Poetas somos nós, é toda a gente
Que vive neste mundo e é somente
A forma de escrever que em nós varia

Se alguns dizem poemas a cantar,
Também os há que os dizem sem falar
E quem, silente e só, faz poesia!

José Sepúlveda

Cego do Maio

Cego do Maio

Nasceu num berço humilde e carinhoso
Esse poveiro cheio de valor.
O mar foi para si seu grande gozo,
Alfobre de ternura e grande dor.

E em cada dia um gesto corajoso
Se sucedia. E ia sem temor
Roubar ao mar imenso e revoltoso
A vida de um e outro pescador.

Tão cheio dessa vida abnegada
Foi receber um dia a Torre e Espada
Das mãos do Rei. E com simplicidade

Pegou numa saqueta com beijinhos
E disse, rodeado de carinhos:
- São para os seus cachopos, Majestade!

José Sepúlveda

Nostalgia

Quisera

Há duas coisas que, paciente, espero
Da minha deusa em forma de mulher.
Primeira: estar bem certo que eu a quero;
Segunda: estar bem certo que me quer.

Depois, ver-me embalar num peito aberto
Nada encoberto e, sem me aperceber,
Ver-me abraçado em frenesim liberto,
Corpo com corpo, ardendo sem arder.

E ver sonho ancestral concretizar-se:
Dois seres num só ser, prontos a dar-se
E um fruto desse puro amor nascer.

Ver de seu ventre, em choros aflitos,
Surgir loiro rebento, em altos gritos,
Nessa aventura louca de viver!

José Sepúlveda

Quisera

Quisera

Há duas coisas que, paciente, espero
Da minha deusa em forma de mulher.
Primeira: estar bem certo que eu a quero;
Segunda: estar bem certo que me quer.

Depois, ver-me embalar num peito aberto
Nada encoberto e, sem me aperceber,
Ver-me abraçado em frenesim liberto,
Corpo com corpo, ardendo sem arder.

E ver sonho ancestral concretizar-se:
Dois seres num só ser, prontos a dar-se
E um fruto desse puro amor nascer.

Ver de seu ventre, em choros aflitos,
Surgir loiro rebento, em altos gritos,
Nessa aventura louca de viver!

José Sepúlveda

Pedala

Pedala, Miguel

Dedicado ao meu filho Miguel 
quando da doença grave por que passou.
(Poema reescrito a partir de uma mensagem
encontrada na Internet)

No princípio,
eu olhava para Jesus com outro olhar.
Via um Jesus vigilante,
Juiz que não esquecia
as coisas erradas que eu fazia

Sempre, a cada instante.


Ele estava ali, com Seu poder,
Senhor e Fonte do saber…
Reconhecia a Sua imagem
mas não tinha coragem
de O conhecer

Mais tarde,
quando passei a conhecê-Lo,
pareceu-me que a vida
era como um passeio de bicicleta
e percebi que Jesus seguia atrás,
de forma discreta,
segurando-me e ajudando-me
a pedalar…
E tudo ficou mais belo!

Não me lembro quando foi
que Ele mudou para o meu lugar,
só sei que desde esse dia
a vida ficou cheia de alegria…
E queria cantar!

Conforme o tempo
voava como o vento
e agora me tornara paciente,
tudo ficou mais compreensível,
todo o momento feliz e atraente…
Quando eu estava no comando,
sabia onde queria chegar
e quase sempre encontrava
um caminho exequível.
Mas, incrível, não ficava satisfeito,
Tudo aquilo era previsível… mas imperfeito…

Depois que Jesus assumiu a liderança,
Cresceu-me a confiança.
Dia após dia descobria
que Ele conhecia atalhos maravilhosos.
Passei a subir montanhas,
transpor terrenos pedregosos,
trajectos vertiginosos!
Tudo o que tinha que fazer
era segurar-me confiante
E correr, correr, sempre adiante…
Ele dirigia,
E eu, contente, sorria!
E conquanto
Às vezes me parecesse uma loucura
Ele apenas dizia:
“Segura, Miguel, segura!"



Quando me sentia
ansioso e preocupado,
perguntava-Lhe:
“Senhor, vamos por esse lado?”
Ele corria,
e trocávamos olhares à porfia…
Pouco a pouco foi crescendo a confiança.
E quando às vezes
me surgia a desesperança,
Ele virava-se para trás,
agarrava fortemente a minha mão…
e zás!
Na sua doce e mansa fala,
dizia: “Pedala, Miguel, pedala!”

Levou-me até pessoas que não conhecia;
deu-me o dom do serviço e da alegria…
Depois, olhava para mim… e sorria.
Muitas das pessoas
que trouxe até mim
apoiaram-me em momentos difíceis
e me ajudaram a superar obstáculos
e a prosseguir assim na minha caminhada.
…E, juntos, derrubámos toda a barricada!

E dia após dia
passei a pedalar
na Sua companhia…

Um dia, olhando para mim,
olhos nos olhos,
disse-me:
“Entrega os dons que trazes na mochila
aos amigos e vizinhos da montanha ou da vila.
Às tuas costas são abrolhos, ou espinhos,
é supérflua… e pesada!,
Não vale nada!”
E, sorrindo,
comecei a distribui-los
por todos que encontrava.
E pude descobrir com alegria
que quanto mais dava,
mais recebia!
E o meu fardo
era mais suave e leve
em cada dia…

Ao princípio, não compreendia
e vivia indeciso e com temor.
Mas o Senhor conhecia bem
os "segredos" da minha bicicleta,
sabia como incliná-la em curvas arrojadas,
como elevá-la para transpor
obstáculos e valadas,
lugares pedregosos, charcos lamacentos,
proteger-nos de frios e de ventos…
… e no meio de tantas redundâncias,
desmembrar caminhos e atalhos,
encurtar distâncias...
…e trabalhos!
Aprendi a ouvi-Lo cantar ao pedalar
nos caminhos mais incertos,
aprendi a apreciar a planície infinda,
Estendida em espaços abertos,
E cada dia mais linda…, mais linda!
senti o soprar da fresca brisa
que nos desliza pela fronte,
ao subir a serra, ao descer o monte…
E eu sorria ao desfrutar tanta alegria!

Agora,
quando sinto que não posso ir mais além,
olho em Seu olhar sereno
que num aceno me sorri
Como quem diz: - Estou aqui…
e com fraternal carinho,
murmura baixinho:
“Pedala, Miguel, pedala, filhinho!..."

José Sepúlveda

Veronese

Veronese

Os gritos entoavam lá na praia
Perante tal cenário. E, impotente,
No Veronese há gente que desmaia
Ao pressentir a morte à sua frente.

Chegaram os poveiros. Já se ensaia
O modo de abordar aquela gente.
E o comandante impede que se saia
Ao ver nova tragédia tão presente.

Então, Lagoa chama os seus amigos
Que sem ligar a apelos ou perigos
Se lançam lá no mar, à sua sorte.

E envoltos em coragem, destemor,
Alcançam num instante esse vapor
Salvando toda a gente. Gesta forte!

José Sepúlveda

Passeio Alegre

Passeio Alegre

Passeio alegre. A multidão se agita
Num louco frenesim, sem mais parar.
O povo se atropela e se espevita
Em longas caminhadas junto ao mar.

E toda aquela gente nos incita
A passear felizes, sem parar.
E nem sequer se fala, quase grita
Que é grande o alarido ali no ar.

Em noites de luar, o mar sereno
Nos chama e nos convida num aceno
A desfrutar momentos de prazer.

Que bom ouvir o mar, seu marulhar
E no silêncio e paz reencontrar
Essa alegria imensa de viver!

José Sepúlveda

Espelho

Espelho…
(à laia de soneto)

Quando cheguei ao espelho o meu rosto
E me fitei, ainda com a esperança
Que um dia me encontraria, sem gosto
Fiquei ao ver uns olhos de criança

Velhos, velhos! Com desprazer me encosto
E ali fico tão vário que me cansa
Saber que sou eu e quase que aposto
Que nem eu sou. E já sem confiança

Olho-me bem. Tristeza! Baixo os olhos
E sem querer fito o chão. Só escolhos,
Só lixo. Não, sou só! Porque não vou

Convosco? Somente por cretinice…
De novo, olhei p’ra mim e p’ra mim disse:
- Não posso mais deixar de ser quem sou!...

… e adormeci no sono da vida

José Sepúlveda