quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pedala

Pedala, Miguel

Dedicado ao meu filho Miguel 
quando da doença grave por que passou.
(Poema reescrito a partir de uma mensagem
encontrada na Internet)

No princípio,
eu olhava para Jesus com outro olhar.
Via um Jesus vigilante,
Juiz que não esquecia
as coisas erradas que eu fazia

Sempre, a cada instante.


Ele estava ali, com Seu poder,
Senhor e Fonte do saber…
Reconhecia a Sua imagem
mas não tinha coragem
de O conhecer

Mais tarde,
quando passei a conhecê-Lo,
pareceu-me que a vida
era como um passeio de bicicleta
e percebi que Jesus seguia atrás,
de forma discreta,
segurando-me e ajudando-me
a pedalar…
E tudo ficou mais belo!

Não me lembro quando foi
que Ele mudou para o meu lugar,
só sei que desde esse dia
a vida ficou cheia de alegria…
E queria cantar!

Conforme o tempo
voava como o vento
e agora me tornara paciente,
tudo ficou mais compreensível,
todo o momento feliz e atraente…
Quando eu estava no comando,
sabia onde queria chegar
e quase sempre encontrava
um caminho exequível.
Mas, incrível, não ficava satisfeito,
Tudo aquilo era previsível… mas imperfeito…

Depois que Jesus assumiu a liderança,
Cresceu-me a confiança.
Dia após dia descobria
que Ele conhecia atalhos maravilhosos.
Passei a subir montanhas,
transpor terrenos pedregosos,
trajectos vertiginosos!
Tudo o que tinha que fazer
era segurar-me confiante
E correr, correr, sempre adiante…
Ele dirigia,
E eu, contente, sorria!
E conquanto
Às vezes me parecesse uma loucura
Ele apenas dizia:
“Segura, Miguel, segura!"



Quando me sentia
ansioso e preocupado,
perguntava-Lhe:
“Senhor, vamos por esse lado?”
Ele corria,
e trocávamos olhares à porfia…
Pouco a pouco foi crescendo a confiança.
E quando às vezes
me surgia a desesperança,
Ele virava-se para trás,
agarrava fortemente a minha mão…
e zás!
Na sua doce e mansa fala,
dizia: “Pedala, Miguel, pedala!”

Levou-me até pessoas que não conhecia;
deu-me o dom do serviço e da alegria…
Depois, olhava para mim… e sorria.
Muitas das pessoas
que trouxe até mim
apoiaram-me em momentos difíceis
e me ajudaram a superar obstáculos
e a prosseguir assim na minha caminhada.
…E, juntos, derrubámos toda a barricada!

E dia após dia
passei a pedalar
na Sua companhia…

Um dia, olhando para mim,
olhos nos olhos,
disse-me:
“Entrega os dons que trazes na mochila
aos amigos e vizinhos da montanha ou da vila.
Às tuas costas são abrolhos, ou espinhos,
é supérflua… e pesada!,
Não vale nada!”
E, sorrindo,
comecei a distribui-los
por todos que encontrava.
E pude descobrir com alegria
que quanto mais dava,
mais recebia!
E o meu fardo
era mais suave e leve
em cada dia…

Ao princípio, não compreendia
e vivia indeciso e com temor.
Mas o Senhor conhecia bem
os "segredos" da minha bicicleta,
sabia como incliná-la em curvas arrojadas,
como elevá-la para transpor
obstáculos e valadas,
lugares pedregosos, charcos lamacentos,
proteger-nos de frios e de ventos…
… e no meio de tantas redundâncias,
desmembrar caminhos e atalhos,
encurtar distâncias...
…e trabalhos!
Aprendi a ouvi-Lo cantar ao pedalar
nos caminhos mais incertos,
aprendi a apreciar a planície infinda,
Estendida em espaços abertos,
E cada dia mais linda…, mais linda!
senti o soprar da fresca brisa
que nos desliza pela fronte,
ao subir a serra, ao descer o monte…
E eu sorria ao desfrutar tanta alegria!

Agora,
quando sinto que não posso ir mais além,
olho em Seu olhar sereno
que num aceno me sorri
Como quem diz: - Estou aqui…
e com fraternal carinho,
murmura baixinho:
“Pedala, Miguel, pedala, filhinho!..."

José Sepúlveda

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